Escrito por Matt Tietbohl, Traduzido por Lorena Neira-Ramírez, Revisado por Bárbara Ribeiro
Os peixes juvenis de recife de coral são incrivelmente importantes. Sem eles, não haveria peixes adultos nos recifes para fotografar, comer e estudar! Os peixes juvenis são interessantes porque podem viver em locais separados dos pais e até ter uma aparência muito diferente. Muitas espécies de peixes de recife de coral têm padrões únicos de cores na fase juvenil, drasticamente diferentes dos adultos. Isso é especialmente verdadeiro no caso do peixe-papagaio. O peixe-papagaio é um tipo de peixe com uma mandíbula especial em forma de bico projetada para remover pedaços do recife e se alimentar de uma comunidade diversa de micróbios e cianobactérias que vivem dentro e sobre as rochas (Nicholson & Clements, 2020). Os peixes-papagaio juvenis são notoriamente difíceis de estudar porque sua coloração costuma ser muito diferente das cores da fase inicial e terminal e porque muitas vezes se parecem entre si. Isso torna difícil o uso de estudos visuais debaixo d’água, a forma mais comum de estudar as populações de peixes de recife em relação à sua distribuição e números populacionais.
Se não soubermos diferenciar as espécies, será mais difícil estudá-las e entender como elas usam diferentes habitats. Para aprender mais sobre como o peixe-papagaio usa diferentes habitats ao longo de suas vidas, Sievers et al. (2020) usaram uma série de censos e coleções de peixes em vários habitats nas Filipinas. Eles realizaram censos de peixes em recifes de coral e em possíveis habitats de juvenis, como em gramas marinhaspastos marinhos, macroalgas e lagoas, e então realizaram as coletas de peixes-papagaio juvenis (Figura 1). Como muitos desses juvenis são muito semelhantes, eles identificaram os juvenis coletados por meio de análise genética, essencialmente usando um código de barras de DNA para atribuí-los a suas espécies corretas (DNA barcoding). Os cientistas foram então capazes de determinar quais espécies dependiam de múltiplos habitats ao longo de suas vidas – o que eles chamaram de uso de múltiplos habitats – em comparação com as espécies encontradas apenas em recifes de coral durante toda a sua vida.
Ao longo de seus estudos, eles contaram 19 espécies diferentes de peixes-papagaio adultos em todos os habitats. Em suas coleções de peixes-papagaio juvenis de habitats não recifais, eles encontraram 10 espécies que eles tinham registrado em seus estudos, no entanto cinco espécies nunca foram registradas em seu estado adulto. Isso incluiu Scarus psittacus, um dos juvenis mais abundantes em suas coleções. Do mesmo jeito, as densidades de diferentes espécies variaram entre os habitats, e algumas espécies só foram encontradas em habitats não recifais e vice-versa na idade adulta. As maiores densidades de peixes foram de juvenis em habitats não recifais (Figura 2), embora nem todos os juvenis tenham sido encontrados unicamente em habitats fora do recife. Alguns outros foram encontrados apenas em habitats de recife, como S. niger.
Essas descobertas fornecem evidências mais claras de que o peixe-papagaio não depende somente dos habitats do recife de coral, mas requer uma variedade de habitats fora dos recifes como parte de seu ciclo de vida. Contando todas as espécies coletadas e contadas, mais de 90% de todas as espécies de peixes-papagaio podem ser classificadas dentro do uso de múltiplos habitats ao longo de sua vida. O habitat fora do recife para juvenis é especialmente importante, porque foi lá que as maiores densidades foram encontradas para a grande maioria das espécies. O habitat de macroalgas e gramas marinhas pode fornecer mais alimento na forma de pequenos crustáceos e epífitas (plantas que crescem em cima de outras plantas) para prover aos juvenis de peixe-papagaio energia suficiente para crescer rapidamente e atingir um tamanho onde eles possam se mover para outros recifes ou habitats adjacentes aos recifes. Os cientistas também documentaram que os estudos visuais não contavam uma das espécies de juvenis mais abundantes. Isso serve como um bom lembrete de que os estudos visuais nem sempre detectam todas as espécies presentes. A identificação de peixes-papagaio pode ser relativamente fácil com adultos, embora a identificação de juvenis possa ser difícil com um número limitado de guias de identificação (Bellwood & Choat, 1990). O uso do DNA barcoding melhora muito a precisão da identificação de espécies e coleções, e junto com pesquisas como esta formam um caminho sólido para entender melhor como o peixe-papagaio e possivelmente outras espécies-chave usam uma variedade de habitats ao longo de suas vidas.
Citações:
Bellwood DR, Choat JH (1989). A description of the juvenile phase colour patterns of 24 parrotfish species (family Scaridae) from the Great Barrier Reef, Australia. Records of the Australian Museum, 41(1): 1–41.
Nicholson GM, Clements KD (2020). Resolving resource partitioning in parrotfishes (Scarini) using microhistology of feeding substrata. Coral Reefs, 39: 1313–1327.
Sievers KT, Abesamis RA, Bucol AA, Russ GR (2020). Unravelling seascape patterns of cryptic life stages: non-reef habitat use in juvenile parrotfishes. Diversity, 12(376): doi:10.3390/d12100376.