Ecologia de Recifes de Coral Modernos: Combinando Fatores Ambientais Naturais e Antrópicos

Escrito por Evan Quinter, Traduzido por Thomás Banha, Revisado por Ana Carolina Grillo

Em 2018, pesquisadores examinando o banco de dados de detritos do mar profundo (Deep-Sea Debris Database) descobriram um saco plástico no fundo da Fossa das Marianas. A uma profundidade de 10.898 metros, nosso plástico descartável agora infesta a parte mais profunda do oceano e demonstra a extensão da influência humana no mundo natural. Nossas ações alteram o meio ambiente em escala global, onde frequentemente exasperamos o equilíbrio e os recursos de qualquer ecossistema, incluindo os recifes de coral. Se quisermos entender os complexos processos e interações nos sistemas recifais, precisamos nos incluir como os principais influenciadores da mudança ecológica.

A ecologia é classicamente baseada em cenários pré-industriais onde os humanos têm uma influência marginal , deixando os fatores naturais para explicar os padrões ambientais. Para recifes de coral, esses fatores podem incluir complexidade de habitat, ação das ondas, produção primária e temperatura, entre outros. Em ambientes naturais, os sistemas recifais mudam e se adaptam de acordo com esses gradientes, tornando-os preditores confiáveis para a saúde e composição da comunidade. E não estamos excluídos desses modelos; quando os humanos interagem com os recifes de coral através de práticas sustentáveis, como a pesca de subsistência, nos tornamos parte desse sistema relativamente equilibrado.

Figura 1 mostra como as comunidades de recifes podem flutuar com base em parâmetros ambientais naturais. Figura adaptada de Williams, G.J. et al. 2019

Contudo, esse equilíbrio perpétuo é tirado do eixo quando começamos a retirar muito. Além dos fatores naturais, as pressões ambientais antrópicas podem usar demais os recursos e aumentar os efeitos de outras influências naturais. Impactamos os recifes de coral de diversas maneiras que ameaçam a saúde dos recifes: a pesca industrial muda as comunidades dos recifes, da fisiologia dos peixes à estrutura de comunidades inteiras; os resíduos de plástico aumentam a mortalidade e as doenças dos corais; e a culminação do aquecimento e acidificação dos oceanos, combinados com outros estressores ambientais, podem ameaçar a estabilidade de ecossistemas recifais inteiros.

Figura 2 demonstra as pressões recifais exponencialmente mais altas que aumentaram na era antropogênica em comparação com antes da era industrial. Figura adaptada de Williams, G.J. et al. 2019.

Para compreender a escala do fator humano na ecologia dos recifes de coral, precisamos examinar também as influências socioeconômicas por trás de nossas escolhas sociais. Os fatores distais, ou distantemente relacionados, por trás das principais questões ambientais giram em torno de nossas práticas globais. Isso inclui consumismo, migração, comércio de recursos, viagens que utilizam fontes de energia não renováveis, emissões de gases de efeito estufa; todas atividades humanas que devem aumentar nos próximos anos. Vivemos em um período no qual os modelos ecológicos clássicos perderão sua capacidade de prever as respostas dos sistemas recifais à medida que gradientes naturais estão sendo superados por nossos impactos diretos e distais sobre os ecossistemas recifais.

Figura 3 mostra as relações interconectadas entre os ecossistemas de recifes de coral, o bem-estar humano e as escolhas da sociedade que moldam nosso mundo. Figura adaptada de Hughes et al. 2017.

Felizmente, um grupo de pesquisadores propôs um novo conceito ecológico para a era moderna. Cunhada “macroecologia social-ecológica”, os cientistas defendem um estudo da macroecologia que coloca os humanos como um fator-chave, certamente avançando a ecologia dos recifes de coral para investigar os fatores naturais e antrópicos interconectados dos ecossistemas dos recifes de coral. Os pesquisadores neste novo campo procuram identificar a extensão da influência humana e testar novos resultados contra os modelos ecológicos clássicos, mas este novo procedimento ecológico poderia resultar em melhores previsões para a adaptabilidade e saúde dos recifes de coral no Antropoceno.

À medida que continuamos a estudar os recifes, devemos manter os humanos como um componente-chave da ecologia e conservação dos recifes de coral. Estaremos para sempre ligados à natureza, pois o direito humano básico a uma qualidade de vida satisfatória depende da saúde ambiental. Assim, conforme a ecologia dos recifes de coral evolui para incluir forças antrópicas, vamos garantir que nossas soluções de conservação sejam iguais para os recifes de coral e humanos.

Se você estiver interessado em aprender mais, confira os links abaixo:

O artigo sobre macroecologia social-ecológica: https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1365-2435.13290

Como o bem-estar humano é um bom indicador do progresso ambiental: https://science.sciencemag.org/content/352/6281/38.full

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